Centro de Estudo e Pesquisas Clínicas de São Paulo

Prof. Dr. Zan Mustacchi

Perguntas mais frequentes em Síndrome de DOWN

• Boa tarde eu tenho 40 anos e gostaria de ter outro filho, meus exames de rotina estão normais, tenho uma filha de 05 anos e gostaria de saber se pela minha idade é arriscado ter um filho com síndrome de Down/T21 (pergunta feita por e-mail).
Resposta do Prof. Dr. Zan Mustacchi: Considerando que não haja histórico familial de indivíduos com qualquer alteração genética e em especial com síndrome de Down/T21, podemos caracterizar o risco de uma prole para sua idade (entendendo que o pai da futura criança tenha uma idade próxima), o risco de ocorrência de um filho com síndrome de Down/T21 está por volta de 1 para cada 100 ou até 1 para cada 150 nascimentos vivos, mas preciso salientar que toda e qualquer gestação independente de faixa etária tem um risco de 3% de filho com alguma alteração perceptível no nascimento (isto é um risco populacional). Se vocês tomarem ácido fólico 5mg ao dia (o casal, ambos necessariamente) o risco pode reduzir-se tanto para síndrome de Down/T21 quanto para outras malformações, tal qual anomalias de fechamento de tubo neural. O uso de folato (ácido fólico) pelo casal deve ser no mínimo 2 meses antes de engravidar e você deverá tomar até fim do primeiro trimestre de gestação e o seu marido até a confirmação do seu estado gestacional.

• Influência da dança na síndrome de Down/T21 (pergunta enviada por e-mail):
Resposta do Prof. Dr. Zan Mustacchi: Vivemos em busca de prazeres e a música, acompanhada por uma extroversão corporal, traduz além de prazer uma grande organização neurológica com controle do equilíbrio e organização de simetria e assimetrias harmônicas e projetadas na nossa mente como elementos que dependem de memória e habilidade. Portanto, todo o ornamento deste trabalho sempre favorecerá a qualquer indivíduo, principalmente aquelas que apresentam algum modelo de comprometimento.
– Pergunta enviada em 26/06/2004:

• “Gostaria de receber mais informações sobre como trabalhar alfabetização com as crianças com síndrome de Down/T21”
Resposta da Psicopedagoga do CEPEC-SP Dra. Vânia Aparecida B. Sanches:
O tema de sua questão é bastante amplo, mas espero auxiliar-lhe fazendo algumas considerações que julgo como importantes.
O primeiro passo ao pensar em alfabetização é compreender e respeitar as diferenças individuais. Assim como há diferenças entre as crianças ditas “normais”, há, também, diferenças entre as crianças com SD/T21.
Mas, podemos partir do princípio que as crianças com SD/T21, comumente, apresentam dificuldades na aquisição de linguagem, que é essencial no processo de alfabetização.
Outras habilidades psicomotoras, como o esquema e imagem corporal, percepção, coordenação motora, orientação espacial e temporal, lateralidade e atenção, são, também, requisitos no processo pedagógico, e podem estar limitadas na criança com SD/T21. Desta forma, a prontidão para a alfabetização se torna imprescindível, e para isto, se faz necessário ter o conhecimento real do aluno, não só em suas limitações, como principalmente, de suas habilidades, ou seja, o seu potencial para o aprendizado.
Como qualquer criança, o conhecimento acontece, efetivamente, quando é prazeroso e desperte o seu interesse e, para isto, a situação lúdica é essencial.
As informações apresentadas devem ser graduais, uma vez que a criança com SD/T21 apresenta dificuldades em reter muitas informações, assim, para favorecer esta retenção, elas devem ser contextualizadas, e não fornecidas de modo isolado.
Devemos considerar, também, que o professor deve estar atento, constantemente, às reações comportamentais do aluno, ou melhor, às suas reações afetivas, valorizando suas conquistas e incentivando-o às novas.
Ainda, em sala de aula, proporcionar dinâmicas grupais onde se estimule a cooperação e interação entre os alunos e aceitação social da criança.
Durante o processo educacional, a interação da escola com a família é extremamente importante, pois permite que esta participe das atividades que o filho vem desenvolvendo, permitindo maior compreensão da criança e maior colaboração no seu desenvolvimento, minimizando, ainda, as suas dúvidas e ansiedade sobre o processo de alfabetização da criança.
A interação da escola, com os profissionais envolvidos com a criança, vem, também, contribuir para o seu desempenho escolar e desenvolvimento global (terapeuta ocupacional, fonoaudiólogo, psicopedagogo, psicomotricista, médicos, entre outros).

Aponto algumas “dicas” que poderão te auxiliar neste momento, porém sem a intenção de limitá-las ou finalizá-las:
Conhecer as limitações do aluno e, principalmente suas habilidades, de maneira que possa explorá-las e ampliá-las por meio de vivências de inúmeras e diversas experiências.
Os aspectos psicomotores, como já disse, são essenciais para a prontidão da alfabetização; o corpo e suas relações com o meio são referências para qualquer tipo de aprendizagem. Portanto, incentivar e explorar as atividades corporais e expressivas (faça uma parceria com o educador físico da escola).
Proporcionar situações prazerosas de aprendizagem que facilitem o desenvolvimento de diferentes atividades (motoras, cognitivas, emocionais e sociais) e, consequentemente, maior elaboração do pensamento.
A criança com SD/T21 apresenta dificuldades de abstração e, por isso, devemos trabalhar com o concreto; é importante que a criança manuseie os objetos.
Proporcionar o contato e realização de atividades relacionadas com leitura/escrita.
O educador deve estar atento ao fato de que a construção da escrita, e compreensão da leitura, se faz necessário que o aluno, não somente adquira a linguagem, como, também, articule corretamente os fonemas, ou seja, fale corretamente, o que, comumente, não é o caso nas crianças com SD/T21. Assim, a parceria com o fonoaudiólogo é muito importante.
As habilidades manuais e postura corporal devem ser trabalhadas, uma vez que a escrita requer estas funções; embora uma inabilidade nestas áreas pode não impedir o processo de alfabetização, pode, ao menos, dificultá-la. Neste sentido, o contato com o terapeuta ocupacional (T.O.) é bastante vantajoso.

Incentivar a utilização de conceitos têmporo-espaciais.
Estimular a identificação de diferenças e semelhanças entre sons iniciais e finais das palavras.
Identificar os grafemas (símbolos gráficos).
Favorecer a organização de sequências da esquerda para a direita.
Favorecer a organização de idéias em sequências lógicas.
Adaptar as atividades de leitura/escrita ao contexto linguístico da criança.
Desenvolver hábitos de vida em grupo.
Evitar situações que possam ser traumatizantes para a criança; enfatizo, novamente, a necessidade de conhecer suas limitações e principalmente seus potenciais.
Explorar ao máximo cada experiência de aprendizagem da criança.
O processo de aprendizagem deve ser contextualizado com a realidade do aluno.
Enfim, desejar alfabetizar crianças com SD/T21 significa ter que considerar que há diferenças individuais e saber conhecê-las e respeitá-las é o princípio de tudo. O aprendizado pode ser mais lento, na grande maioria das vezes, não é impossível.
Bem, penso que teríamos muitas coisas a serem ditas sobre a sua questão, porém não é possível aprofundá-las neste momento, mas espero que algumas de suas dúvidas tenham sido esclarecidas com as considerações feitas.

• Estou em minha 3ª gestação e foi quando pela terceira vez optei por fazer o exame para detectar a síndrome de Down/T21, mas desta vez foi tudo diferente. Fiz este exame através do sangue e houve uma alteração, sendo que o resultado final deu um “Alto Risco de Síndrome de Down/T21”, assim sendo fiz um ultrassom de alta definição, bem eu não conheço nada. A minha dúvida é, até que ponto este tipo de ultrassom, sendo que estou na minha 22ª semana, pode-se ter 100% de certeza de detectar-se a síndrome, pois até então foram feitas medidas de fêmur, cabeça e etc. e não foi constatada nenhuma alteração. Este exame pode me dar quantos por cento de tranquilidade? Fiz este exame passado o prazo estabelecido e por este motivo me justificaram que há uma possibilidade de erro nas datas e o exame foi considerado inválido. (Pergunta feita por e-mail)
Resposta do Prof. Dr. Zan Mustacchi: O exame de ultrassom, que chamamos de Ultrassom Morfológico Fetal, sugere riscos de valores que se aproximam a 75% de fetos com alterações cromossômicas e jamais são determinantes absolutas de diagnóstico.
Para que tivéssemos a certeza, o único exame é o estudo citogenético ou do líquido amniótico ou da vilosidade coriônica (placenta).
No momento acredito ser prudente investigar a função cardiovascular de seu bebê, solicitando ao seu médico uma Ecodoppler-cardiografia Bidimensional Colorida Fetal, visto que se houver qualquer alteração cromossômica fetal o risco mínimo para este tipo de comprometimento é de 50% (de cardiopatia), o qual poderá alertar e permitir uma melhor qualidade de atendimento perinatal.

• O que é mais urgente e adequado se fazer na área de fonoaudiologia para um bebê com síndrome de Down/T21 com 2 meses de idade? (pergunta por e-mail)
Fonoaudióloga Sandra Cristina Fonseca Pires: O trabalho fonoaudiológico para um bebê com síndrome de Down/T21 de 2 meses enfoca basicamente a alimentação. Avalia-se todos os aspectos acerca das funções de alimentação (sucção, deglutição) e dificuldades que possam estar relacionadas, ou seja, modo de pegar ao seio materno ou ao bico de mamadeira, nesse caso tipo e formato do bico, ritmo de sucção, coordenação e eficiência das funções, ocorrência de engasgos, refluxos ou cansaço excessivo. Além disso, avalia-se a condição da musculatura facial e oral, e a necessidade de orientar exercícios específicos e regulares.

• Tenho um filho de 8 meses com síndrome de Down/T21 e ainda não procurei um fonoaudiólogo. Gostaria de saber qual é a idade ideal para fazer avaliação e acompanhamento fonoaudiológico para crianças com síndrome de Down/T21? (pergunta por e-mail)
Fonoaudióloga Sandra Cristina Fonseca Pires: A fonoaudiologia não corresponde apenas ao trabalho da fala e linguagem; a avaliação e o acompanhamento terapêutico fonoaudiológico são indicados desde o primeiro mês de idade, variando quanto à regularidade deste acompanhamento. Inicialmente são avaliadas as condições de alimentação, seja ao seio materno ou na mamadeira, seguindo um acompanhamento das fases de transição alimentar quanto ao modo de oferta, utensílios a utilizar e consistências dos alimentos. Além disso, desde o início avalia-se também a necessidade e indicação de exercícios a serem realizados visando fortalecer a musculatura da face e região oral, em geral fraca, assim como é característica da musculatura global de crianças com síndrome de Down/T21. Acrescento ainda, considerando a idade de seu filho, a importância de um acompanhamento da integridade e desenvolvimento do sistema auditivo com avaliações periódicas a partir dos 12 meses de idade.

• É possível que um feto tenha síndrome de Down/T21 e esse diagnóstico não seja detectado no exame de translucência nucal? (pergunta por e-mail)
Prof. Dr. Zan Mustacchi: A avaliação da translucência nucal, como diagnóstico de triagem neonatal, é um dos dados que deve ser acumulado a no mínimo mais dez outros itens de observação da ultrassonografia morfológica fetal e interpretada dentro do conjunto como o valor de alerta e não de diagnóstico. É óbvio que quanto maior o número de sinais de alerta observados na ultrassonografia, maior a confluência para a possibilidade de um feto com cromossomopatia. É importantíssimo enfatizar que o único exame que de fato confirma o diagnóstico genético fetal é o estudo citogenético, que pode ser feito de várias formas, dentre as quais as mais rotineiramente realizadas e propostas são o estudo citogenético do líquido amniótico do vilo corial, portanto há de se entender que dados isolados de ultrassonografia fetal devem ter seus valores comparados e associados com o mais amplo perfil de investigação e não configuram uma confirmação ou uma exclusão diagnóstica.

• Gostaria de saber se a síndrome de Down/T21 pode ocorrer em pessoas da raça negra? (pergunta feita por e-mail)
Prof. Dr. Zan Mustacchi: A síndrome de Down/T21 pode ocorrer tanto em pessoas da raça negra, quanto em qualquer outra raça nas mesmas proporções. Tudo é possível.

• Quais os cuidados que se deve ter com uma criança que nasce com a Síndrome de Down/T21?
Essa criança precisa de cuidados médicos iguais e maiores que outras crianças. Iguais, porque é uma criança, como qualquer outra. Maiores, porque as pessoas com SD/T21 têm algumas particularidades, entre as quais a mais preocupante é uma cardiopatia. Metade dessas crianças apresentam problemas cardiológicos. Se o pediatra dessa criança, ao ouvir seu coração, achar que está tudo bem; se um cardiologista a examinar e disser que não há problemas, mesmo assim o meu conselho aos pais é que a criança seja levada a fazer um exame que documente isso: e o melhor que temos hoje se chama ecodoplercardiografia bidimensional colorida – independentemente de indicação médica ou mesmo de capacitação médica. Se esse exame evidenciar normalidade, só aí é possível tranquilizar-se quanto a disfunções anatômicas cardíacas.
Essa, porém, é uma criança com dificuldade de aprendizado. Para que ela tenha a melhor qualidade de vida possível, é importante avaliar sua capacitação para o aprendizado, como a acuidade auditiva e acuidade visual. Não é raro um comprometimento nessas áreas. Na área oftalmológica há mesmo a possibilidade, maior que a usual, da existência de catarata ou glaucoma. Com grande frequência essas são crianças que apresentam estrabismo e vícios de refração, como miopia e hipermetropia. Se o diagnóstico da Síndrome for feito bem cedo, sua qualidade de vida poderá ser bastante melhorada, com os cuidados especiais. Elas nuca deixarão de ser uma pessoa com Síndrome de Down/T21, sua capacidade intelectual será sempre menor, mas elas poderão ter uma vida melhor.
Além de cuidados médicos, uma dieta adequada é muito importante, e a melhor dieta é a que favorece a mobilidade intestinal. É preciso, portanto, evitar os tubérculos, como batata, cenoura, mandioquinha, que, além de prenderem o intestino, engordam – e a hipotonia, somada à obesidade, torna tudo mais difícil.
A amamentação com o leite materno, se é importante para qualquer criança, para as pessoas com SD/T21 é fundamental. Isso porque melhora sua capacitação fono-deglutatória futura, melhora a mandíbula, favorece a deglutição e a sucção – o que leva mais tarde a uma melhor comunicação verbal, dado importantíssimo, uma vez que uma de suas características é a linguagem comprometida.

• Qual a porcentagem de nascimentos de bebês com Síndrome de Down/T21?
Mundialmente, a cada 800 a mil nascimentos, um é de criança com SD/T21. Das três milhões de crianças que nascem anualmente no Brasil, cerca de oito mil são tem Síndrome de Down/T21. Mas é interessante, e preocupante, reparar que a porcentagem apresenta variações em alguns países. Tende a ser menor em alguns países de Primeiro Mundo, mas isso acontece porque, neles, o governo empenha-se em favorecer o diagnóstico pré-natal, que pode indicar a Síndrome de Down/T21. Esse diagnóstico, imposto pelo governo, tem como finalidade evitar o nascimento dessas crianças – que, afinal, podem representar um alto custo. Alguns países chegam mesmo a limitar os direitos dessa criança, quando a Síndrome tiver sido diagnosticada prematuramente sem que se tenha interrompido a gestação.

• É fato que as crianças com Síndrome de Down/T21 são por natureza dóceis e amorosas?
Não é verdade. Como qualquer outra criança ela devolve o que recebe, seja carinho e amor, seja agressividade. O caso é que essa é uma criança que devolve em triplo. Se for bem tratada, ela é extremamente amorosa, mais do que as outras crianças. Se sofrer maus tratos, irá revidas com mais violência ainda. Elas são um reflexo ampliado daquilo que lhes é oferecido.

– Existe a possibilidade de se detectar a síndrome de Down/T21 antes do nascimento da criança?
Prof. Dr. Zan Mustacchi: Sem dúvida nenhuma, há mais de 20 anos as técnicas de diagnóstico pré-natal vem sendo aprimoradas com o principal intuito de realizar o diagnóstico preciso, o mais prematuramente e com a maior segurança possível. A punção do vilo corial, bem como a amniocentese prematura, são os dois exames de melhor especificidade e segurança nos diagnósticos, tanto da síndrome de Down quanto de qualquer outra cromossomopatia numérica ou estrutural.

• Como trabalhar o lado psicológico dos pais?
Prof. Dr. Zan Mustacchi: Defrontar-se com a perda é muito difícil. Costumo dizer que perder um pai, uma mãe, um irmão, um tio é perder o passado e perder um filho, mesmo que esperado, é perder o futuro. A perda do filho esperado deve ser inicialmente entendida como um momento de grande luto, pois todas as perspectivas que elaboramos para um futuro filho, no momento da notícia do nascimento de um filho com síndrome de Down/T21, caem por água abaixo.
A extrema delicadeza da situação deve ser abordada com cautela e habilidade que ultrapassa os conhecimentos técnicos profissionais. Com isso, quero dizer que a formação profissional na área da saúde não é suficiente para dar um suporte que possa sustentar tal drama social; é necessário, além de uma grande habilidade profissional, uma prática deste momento que somente é adquirida pela vivência a longo prazo de várias destas situações.
O papel do psicólogo é indubitavelmente importante na condição de dar alicerces e, portanto, condições estruturais para que o casal consiga entender, compreender e acreditar na perspectiva da ampla gama de possibilidades que ornamentam a sociabilização das pessoas com síndrome de Down/T21, desmistificando parâmetros sócio-culturais e informações errôneas previamente existentes e impostas pela sociedade com relação as esses pacientes.

Atualmente o que existe de mais avançado, em termos de tratamento no Brasil?
Prof. Dr. Zan Mustacchi: Particularmente e de forma que muito surpreende, acredito que o Brasil esteja muito avançado quanto a suas propostas de atenção às crianças com síndrome de Down/T21. Como mantemos um intercâmbio e uma participação direta com o DSMIG (Down Syndrome Interest Group), podemos afirmar que entre todos os países envolvidos com esse grupo de estudos da síndrome de Down/T21, somos provavelmente os únicos que mantém atualizada a proposta do protocolo de investigação clínica, bem como a frequência desta investigação em todos os nossos pacientes, principalmente no serviço público (no Hospital Infantil Darcy Vargas estão em acompanhamento cerca de 5.000 crianças com síndrome de Down/T21).
O grande marco da diferenciação do Brasil, com relação a atenção às pessoas com síndrome de Down/T21 perante os demais países, é que a proposta existente é das mais avançadas, até hoje determinadas por serviços de saúde pública, que é chamada de prevenção. Este tem sido o “tratamento” de melhor resultado existente para com a síndrome de Down/T21 envolvendo, obviamente, todo um suporte multiprofissional.

• Como tornar a criança sociável e inseri-la na sociedade, evitando discriminação?
Prof. Dr. Zan Mustacchi: Considerando que as crianças com síndrome de Down/T21 apresentam uma característica fenotípica determinada pela sua própria imagem fotográfica, esta expressão característica foi lamentavelmente muito mal apresentada às gerações que nos antecedem, de tal forma que, assim como o preconceito da associação de “manga com leite”, que fora imposto pelos coronéis e senhores das capitanias para proteger um potencial econômico gerado pelo leite e seus derivados, permaneceu por estes cinco (5) séculos e só agora está sendo caracterizado como uma grande mentira que envolvia questões econômicas; a síndrome de Down/T21 que foi descrita há quase quatro (4) séculos com as restrições que lhes foram impostas, estão sendo progressivamente desafiadas e vencidas e temos como um dos principais exemplos a questão da sobrevida deste grupo que, no início do século XX, era de mais ou menos cinco (5) anos, em meados do mesmo século era de 15 anos e no fim deste século, praticamente considerado similar a nossa própria idade de sobrevida.
Isto tudo aconteceu devido ao envolvimento dos educadores, profissionais da saúde e, fundamentalmente, pela persistência e insistência dos pais e associações que objetivaram a melhor qualidade de vida de seus filhos; obviamente alicerçados com a aquisição da terapia antimicrobiana e dos grandes avanços da cirurgia cardíaca.
Consideramos, portanto, que a sociabilização das crianças com síndrome de Down/T21 demandará fundamentalmente um largo período de crédito da sociedade que, necessariamente, estará vinculada com progressivas insistências de indivíduos isoladamente ou de grupos de instituições com os conceitos determinados pelos programas de inclusão geral e o passo seguinte a esta inclusão social será coroado pela igualdade de seus direitos e obrigação. É preciso reconhecer e se conscientizar de que o preconceito da situação isolada de “manga com leite” perdurou 500 anos, ficando a pergunta: – Quanto tempo precisaremos para a “suposta” sociabilização integral das pessoas com síndrome de Down/T21 ser extinta?
– Um recado para os pais que tem filho com síndrome de Down/T21:
Prof. Dr. Zan Mustacchi: Acreditem: SEMPRE É CEDO!!

• Por que ocorre a trissomia no cromossomo 21? Que tipo de falha genética pode resultar nesta trissomia ?
Prof. Dr. Zan Mustacchi: A Trissomia do cromossomo 21, assim como as demais trissomias 13 e 18, originam-se de um defeito, caracterizado como não-disjunção cromossômica, que ocorre durante a anáfase, podendo isto acontecer tanto em situações pré-zigóticas como pós-zigóticas. A principal falha ocorre por uma alteração de uma proteína, a presinilina 1, 2, que compõe a estrutura dos fusos que ligam os cromossomos aos centríolos, para que ocorra a divisão celular e esta anormalidade, gera uma ruptura prematura deste fuso e como consequência uma não-disjunção cromossômica e uma trissomia em uma das novas células formadas e uma monossomia que inviabilidade esta última célula. E então só evoluem as células trissômicas.

• Quais os tipos de discriminação enfrentados pelas pessoas com síndrome de Down/T21? (Pergunta feita por estudante de fisioterapia – por e-mail)
Prof. Dr. Zan Mustacchi: Todas as formas de discriminação são enfrentadas pelas pessoas com síndrome de Down/T21. Inicialmente o elemento ‘imagem’ ‘fotografia’ é o que tem caracterizado o grande impacto, visto que vivemos uma cultura fotográfica. Os preconceitos com o fenótipo da síndrome de Down/T21 passam a expressar-se de forma imediata. O segundo preconceito é o do tratamento ‘infantilizado’, simulando forma carinhosa, mas desrespeitosa com jovens, adolescentes e adultos com síndrome de Down/T21. Outra limitante é a falta do crédito na habilitação social e laboral para com este grupo. O fato de apresentarem um comprometimento intelectual, habitualmente limita o acesso à informação, partindo-se do princípio errôneo de que o comprometimento intelectual destes incapacita-os da atividade educacional rotineira e normal, havendo ainda quem impõe salas de educação especial nas escolas. Enfim, todas as limitações que a sociedade pode lembrar de exercer, ela infelizmente ainda o faz com todas as repercussões que limitam o direito de cidadania das pessoas com síndrome de Down/T21. É lamentável, mas venceremos!

• Quais são as propostas de tratamento oferecidas pelos seguintes profissionais: fisioterapia, psicoterapia, outros… (como estes profissionais, trabalham com a síndrome de Down/T21)? (Pergunta feita por estudante de fisioterapia – por e-mail)
Prof. Dr. Zan Mustacchi: A estimulação é oferecer toda e qualquer oportunidade de capacitação, aprendizado, sociabilização, adequação e direitos, estas são as bases principais dos programas de intervenção preventiva que habitualmente alicerçam os tratamentos.

• Como é o avanço da idade para pessoas com Síndrome de Down/T21, onde vão morar? (pergunta enviada por e-mail por estudante de arquitetura e urbanismo, da Fundação Armando Álvares Penteado (FAAP), que está projetando um centro de desenvolvimento para pessoas com síndrome de Down/T21 em São Paulo)
Prof. Dr. Zan Mustacchi: Atualmente ainda ficam restritos a programas institucionais, quando “abandonados” pelos familiares e órfãos. Há uma grande preocupação social em elaborar alternativas inclusivas em “lares abrigados”.

• No meu projeto terá a convivência de adultos e crianças com Síndrome de Down/T21, isto é bom ou é melhor separar? (pergunta enviada por e-mail por estudante de arquitetura e urbanismo, da Fundação Armando Álvares Penteado (FAAP), que está projetando um centro de desenvolvimento para pessoas com síndrome de Down/T21 em São Paulo)
Prof. Dr. Zan Mustacchi: Obviamente com o programa social de inclusão, “unir todos no mesmo barco” é o que se pretende, e entendemos que este comportamento de união será o de melhor resultante.

• As pessoas com síndrome de Down/T21 hoje em dia podem chegar a ter 63 anos, estas pessoas precisam de cuidados especiais? Quais são? (pergunta enviada por e-mail por estudante de arquitetura e urbanismo, da Fundação Armando Álvares Penteado (FAAP), que está projetando um centro de desenvolvimento para pessoas com síndrome de Down/T21 em São Paulo)
Prof. Dr. Zan Mustacchi: Como todo idoso deve ter uma atenção a sua saúde, visando sempre sua melhor qualidade de vida, o que reflete-se diretamente com o projeto de lazer que lhes será oferecido, bem como a um programa dietético peculiar aos comprometimentos salutares específicos, como também a dieta rotineira bem balanceada. O mais importante é o programa de “lazer”, ocupação que lhes é oferecida, de tal forma que a terceira idade necessita de um absoluto lazer para sua ocupação e saúde mental.

• Já houver casamentos entre pessoas com SD/T21, como é transmitida a educação sexual e os cuidados com as doenças sexualmente transmissíveis? Os casais foram morar sozinhos e como enfrentam o fato de não poder ter filhos? (pergunta enviada por e-mail por estudante de arquitetura e urbanismo, da Fundação Armando Álvares Penteado (FAAP), que está projetando um centro de desenvolvimento para pessoas com síndrome de Down/T21 em São Paulo)
Prof. Dr. Zan Mustacchi: Há casamentos em alguns lugares, principalmente de indivíduos com síndrome de Down/T21 junto a outros tipos de deficiência. Quanto a não ter filhos, isto é uma determinação que deve ser considerada caso a caso e inclusive com os responsáveis de ambos os envolvidos. A sexualidade deve ser explorada de forma lógica, racional e rotineira, sem mistérios e muitas vezes explorando modelos da botânica e do mundo animal. Quanto às doenças sexualmente transmissíveis, em qualquer atividade de qualquer indivíduo a prevenção com preservativos é “imposta”.

• Irei fazer moradia, é melhor fazer moradia para duas ou três pessoas e se cada um tem seu quarto ou se é melhor dividir o mesmo? (pergunta enviada por e-mail por estudante de arquitetura e urbanismo, da Fundação Armando Álvares Penteado (FAAP), que está projetando um centro de desenvolvimento para pessoas com síndrome de Down/T21 em São Paulo)
Prof. Dr. Zan Mustacchi: Com relação a moradia devemos respeitar, a princípio, a individualidade, mas isso não pode ser regra, pois muitos de nós não gostamos de viver sozinhos, portanto não há uma fórmula prévia, será determinado com as experiências individuais caso a caso.